Em um futebol cada vez mais mercadológico, enrijecido de objetividade e avesso a manifestações passionais, uma grande torcida é capaz de lembrar que nele, um esporte tão apaixonante, ainda existe espaço para manifestações de apoio, histeria e comoção coletiva.
Após a vitória por 1 a 0 em Salvador contra o Bahia no primeiro jogo da final da Copa do Nordeste na quarta-feira, 22, dia anterior, a torcida do Ceará lotou o Aeroporto Internacional Pinto Martins para receber os jogadores e a comissão técnica da equipe, transformando um ambiente, normalmente calmo, em uma arquibancada.
Com a previsão para a chegada da delegação para 12h30, a torcida - cerca de 600 aficionados - cantou a plenos pulmões todo repertório de apoio ao clube, provocação ao rival Fortaleza e, claro, alusivos a um possível título da Copa do Nordeste. Pouco importa se ainda resta o jogo de volta no Castelão (o Vovô precisa de um empate, no dia 29, para ficar com a taça), o resultado deixou a torcida eufórica e confiante com a conquista que pode estar se avizinhando.
O atraso de meia hora para a chegada dos jogadores até deixou alguns torcedores apreensivos, se perguntando se o time 'driblaria' toda aquela massa torcedora e sairia por outra área do aeroporto, mas às 13h05 a torcida explodiu ao vê-los.
Nem as grades em forma de corredor, que separava a torcida dos jogadores e comissão técnica, evitou a catarse coletiva: eram marmanjos, mulheres, crianças, a maioria com celulares para registrar o momento e devidamente uniformizada - alguns "pendurados" nas divisórias -, gritando para cada jogador que passava, tentando tocá-los, abraçá-los e bater fotos. Os mais festejados foram o goleiro Luís Carlos, o volante Uillian Correia e o meia Ricardinho.
Os três foram literalmente perseguidos por um mar de torcedores, que gritavam seus nomes e os seguiram até a entrada do ônibus. O atacante Magno Alves, por sua vez, só desembarcou após toda multidão se dispensar, para evitar um tumulto, como ídolo maior do clube.
O veículo que levaria a delegação, aliás, também foi cercado de torcedores, que continuaram lá até a saída do ônibus.
"O Ceará mostrou que é guerreiro. E a torcida pede isso sempre, que o time jogue assim, com garra e orgulhando a gente. Espero que a gente conquiste a Copa do Nordeste no Castelão lotado", afirmou o torcedor Ricardo Martins, de 28 anos de idade.
Mesmo felizes com a recepção, os jogadores do Vovô preferem deixar a euforia para a torcida. "O torcedor ajuda bastante. Uma recepção calorosa dessas é bom, sabendo que demos um pequeno passo. Temos que conter um pouco da festa, da alegria, deixa essa festa toda para o torcedor. A gente sabe que ainda não ganhamos o título", ponderou o atacante Marinho.
E certamente o apoio ao time será ainda maior no Castelão, no dia 29, jogo de volta da decisão, quando são esperados mais de 60 mil alvinegros empurrando o clube para o título. A torcida está lotando todos os pontos de venda de ingressos e já adquiriu 38.333 bilhetes (até o fechamento desta edição), esgotando o setor de arquibancada superior.
Diretoria busca manter 'pé no chão'
Contrastando com a euforia da torcida alvinegra vista no desembarque da equipe ontem, a diretoria do Vovô tenta manter a serenidade e os pés no chão quanto ao título da Copa do Nordeste.
O vice-presidente do clube, Robinson de Castro, ressalta que ainda falta ser disputado um jogo, no Castelão, por isso, o foco precisa ser mantido, como se o time ainda precisasse vencer.
"Temos que encarar a situação com muita humildade, com o pé no chão. Sem euforia, porque o Bahia tem um time bom. O resultado foi bom, sim, foi ótimo, fomos lá para vencer e conseguimos. Mas o título ainda está longe, ainda tem o jogo de volta. Nada de salto alto agora".
Até os elogios ao time de Silas são freados pela diretoria, receosa em um clima de "já ganhou".
"Não somos o melhor time do mundo, não somos o Barcelona do Nordeste, e sim um time bem montado, bem comandado e temos que suar e lutar muito por esses objetivos", finalizou ele.
Vladimir Marques
Repórter
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FONTE: DIÁRIO DO NORDESTE